Sex, 22 de agosto de 2025, 13:58

Carta do reitor: A grave situação do custeio da UFS para 2025
UFS enfrenta déficit e convoca comunidade para superar desafios com transparência
(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)
(Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS)

A boa gestão pública exige, acima de tudo, transparência com o orçamento. No caso das universidades públicas, a transparência é ainda mais crucial, pois envolve recursos públicos que sustentam ensino, pesquisa e extensão — atividades essenciais para o desenvolvimento do país.

Quando falamos em custeio, nos referimos às despesas necessárias para manter a instituição em pleno funcionamento, sendo elas: contratos de prestação de serviços, materiais de consumo, energia elétrica, água, bolsas estudantis, manutenção de equipamentos e demais gastos que asseguram a operação cotidiana. É importante destacar que falo aqui exclusivamente do orçamento de custeio, não incluindo gastos de capital, que corresponde a investimentos em bens duráveis, obras e infraestrutura física.

Olhando para os últimos dez anos, é possível perceber a defasagem orçamentária. Em 2016, o orçamento de custeio da UFS foi de R$ 87 milhões. Para 2025, o valor previsto é de R$ 119 milhões. Ao corrigirmos o valor de 2016 pela inflação acumulada do período, constatamos que seriam necessários aproximadamente R$ 134 milhões para manter o mesmo poder de compra de 2016. Isso significa que, na prática, a universidade dispõe de cerca de R$ 15 milhões a menos do que o necessário para repetir as condições financeiras de 2016. Isso sem considerar as novas demandas e custos adicionais surgidos ao longo do tempo, com a ampliação de estruturas e cursos da universidade. A tabela abaixo apresenta a evolução histórica do orçamento de custeio, em milhões de reais:

AnoCusteio UFS
2025119
2024124
2023114
202292
202185
202092
2019102
2018104
2017101
201687

A gravidade da situação financeira da UFS se torna ainda mais evidente ao analisarmos os gastos obrigatórios já contratados, que não podem ser suspensos sem graves prejuízos à operação da instituição. Com base na média mensal dos seis primeiros meses de 2025, a previsão anual dessas despesas chega a R$ 126,56 milhões, ou seja, cerca de R$ 7,56 milhões acima do orçamento total definido pelo MEC para o custeio da UFS deste ano. É importante ressaltar que esses números não incluem a compra de insumos básicos como materiais de escritório, produtos de limpeza, papelaria, materiais de laboratório e itens para reparos, que são indispensáveis. Além disso, pagamos, em 2025, R$ 15 milhões 800 mil referentes a contratos não quitados em 2024, tornando mais grave a restrição orçamentária.

A tabela a seguir apresenta detalhadamente a composição dos gastos obrigatórios de 2025:


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Não podemos deixar de observar que os contratos não quitados de 2024 e a situação de déficit dos contratos de 2025 foram feitos pela gestão passada e deixados para nossa gestão resolver. Somando os 15 milhões de reais que deveriam ser pagos em 2024 mais os 7,56 milhões de déficit dos contratos de 2025, além de 4,5 milhões já gastos com insumos básicos para funcionamento da UFS, nos deixa com um déficit de 27 milhões de reais em custeio para 2025.

Esse quadro impõe cortes inevitáveis, que se traduzem em perda de qualidade no ensino, na pesquisa e na extensão. Sem esses ajustes, não haverá condições financeiras para manter a instituição funcionando até o final do ano. A impossibilidade de atender novas demandas, que surgem diariamente e que demandariam novos gastos, será um reflexo direto dessa escassez de recursos.

Ainda que o cenário seja altamente preocupante, estamos atuando em duas frentes. No campo externo, mantemos diálogo e ações conjuntas com a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) para cobrar do MEC a recomposição inflacionária do orçamento, lembrando que esse problema se repete em grande parte das universidades públicas do país. Internamente, buscando otimizar e realocar recursos, priorizando áreas essenciais e preparando um debate mais amplo sobre as prioridades institucionais.

Diante dessa realidade, convocamos toda a comunidade universitária — docentes, técnicos administrativos e estudantes — a participar ativamente da discussão sobre o orçamento de 2026. Esse processo será iniciado de forma participativa a partir de setembro, com o objetivo de construirmos juntos um planejamento orçamentário realista, transparente e capaz de garantir a continuidade e a qualidade das atividades que definem a nossa universidade.

Prof. Dr. André Maurício Conceição de Souza
Reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS)


Atualizado em: Sex, 22 de agosto de 2025, 14:41
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